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quinta-feira, 24 de março de 2011

Um passeio no inferno.






Meia noite e meia.
Me enfiei em um jeans rasgado, no bolso identidade, alguns trocados e um vidro de rivotril (provavelmente eu ia precisar). Tirei as jóias já que não tinha idéia do que vinha pela frente.
Coração disparado enquanto esperava e me senti como há alguns anos.
Celular na mão, um cigarro atrás do outro e lá fomos nós sem saber direito para onde...

Eu não quero expor ninguém, só falar do que senti essa noite e ainda estou sentindo até agora.
Já disse que sou amiga de quase todos meus ex, gosto de poucas pessoas de verdade, mas quando gosto, eu gosto tudo, acho que sou assim na vida.

Meu ex marido que estava há pouco tempo outra vez em recuperação (como é difícil para eu falar dessas coisas e usar esses termos), resolveu sumir na noite de terça feira. Uma repetição cansativa e dolorosa .Sei que ele estava a poucos meses sem usar drogas ,mas parecia tempo bastante para achar que isso tinha ficado para traz.
Parecia mesmo ou talvez eu tenha perdido o olhar atento para essas coisas, já que não vivo isso.

Mandei um BBM para Claudinha falando que estava indo procurar por ele, mas que estava com medo. Recebi na mesma hora o telefonema do marido dela falando que ia junto.Sei que eles foram por mim e isso me fez lembrar por que gosto tanto deles.

Um prédio na Gloria, perto de um motel, de um botequim e com um chafariz próximo. Paulo era o nome do dono da espelunca onde pessoas se juntam sei lá por quanto tempo para usarem crack entre outras coisas. Era também o único lugar que imaginávamos que ele poderia estar.
Como eu costumo dizer, pessoas que usam drogas não são muito criativas...

Primeiro passei por um motel que costumava ir usar com o Armando até hoje não sei se foi lá que ele foi achado morto. Um aperto no coração...
Depois passei pelo motel que a Mara se matou. Coração ficando menor ...
Parecia uma tarefa impossível e fui fazer o que sei, me virar.
Paramos o carro perto de uma dessas barracas que vendem cachorro quente na madrugada (na verdade o cachorro quente parece mais uma desculpa) as pessoas nesses lugares estão sempre bebendo.

Onde fica a casa do Paulo?
Que Paulo?
Paulinho.
Ah o Paulo maluco?

Na mosca, ele indicou a direção que não era na mesma em que estávamos
Claudia brincou que eu posso estar a muito tempo fora dessas coisas, mas que não perdi o faro, que ela nunca pensaria em parar ali para perguntar
Fomos direto na portaria certa, o faro continuava bom.
Paulo foi internado já tem um mês segundo o porteiro.
Ainda entrei em um motel por perto, mas nada...
Era o que tínhamos então, nada. Nem referência e nem idéia de em que lugar ele poderia estar
Confesso que fiquei puta, tantos outros momentos para esse Paulo se internar...

Voltamos ao cachorro quente, parecia o mais obvio já que só tinha doidão por lá.
Falei com alguns caras, perguntava em que lugar podia fumar crack por ali. Eles devem ter achado que eu era uma iniciante em busca dos meus iguais.
Ah se eles soubessem...
Nunca usei isso graças a Deus, mas de iniciante também não tenho nada, pelo menos não nesse mundo.
Um dos caras com nariz escorrendo e eu podia lembrar a agonia do pó e até o gosto. Outro cara me disse que dentro da favela tinha um buraco com um lençol branco e que as pessoas ficam usando lá dentro.
Eu não tinha estrutura para me meter em um lugar assim, não tenho nem quero ter.

Fomos embora, mãos abanando, frustrados e com a preocupação e a esperança de um lampejo de alguma idéia genial que pudesse nos dar a direção.

O lampejo no veio.
Pelo visto nós é que estávamos sem imaginação.

Essa noite fui ao inferno e voltei, as coisas não mudaram muito por lá.

Quem definitivamente mudou fui eu, que mesmo tendo o tal “faro” como disse a Claudia (tem coisas que não esquecemos nunca) não me identifico nem me sinto mais a vontade nesses lugares. O inferno não é mais o quintal da minha vida .

O sol quente do dia seguinte e olhando o mar com um cara brincando de stand Up dentro d'água me confirmou que meu lugar é na luz. Sempre foi ,eu só não sabia como chegar lá.

Mas hoje sei ,ando confortável e não troco minha vida e o prazer que sinto em estar viva por nenhum dos lugares que já estive no passado ,nem nos melhores momentos se é que houveram alguns.

Também vi que tenho que colocar meus limites que ainda são frágeis em se tratando de pessoas queridas. Não quero viver nem de elenco de apoio ou figuração essa novela fracassada que é a vida de quem usa drogas.Não quero rotular nem usar os termos que ouvi por anos no NA ,só por que esse não é o meu caminho.Juro zero de preconceito ,até por que como poderia ?

Mas a vida é maior, pelo menos a minha.E como eu gostaria que as pessoas que ainda estão nesse labirinto de lego pudessem experimentar o que eu experimento hoje. Adoraria ajudar,mostrar outras escolhas mas acho que a única e talvez a melhor coisa que eu possa fazer ,é continuar a viver e curtir a vida ,com tudo que ela tem de bom e de nem tão bom assim.

Hoje já são três dias que ele esta sumido...

Voltei para casa ouvindo o CD dele no carro e enquanto olhava a orla da praia as palavras das musicas dele me faziam acreditar que ele vai ficar bem. Confirmaram o quanto gosto dele e que somos responsáveis por nossas escolhas .
Eu vou esperar de braços abertos ele fazer o caminho de volta, mas vou fazer isso na luz.
Até porque sei que uma pessoa que "me canta" em uma de suas musicas como “céu azul”, não gostaria de me ver esperar em outro lugar que não seja no sol



O inferno não é mais lugar para mim, nem a passeio.

PS meu coração continua apertado, afinal para os que dizem por ai que não tenho um. Olha só...rs

domingo, 20 de março de 2011

A menina virtual.






Hoje a Roberta que se tornou uma amiga virtual desde que leu o livro, deixou um comentário no texto anterior que me fez pensar bastante
Uma coisa que me surpreendeu ,quando as pessoas vinhas falar sobre o livro comigo ,é que muitas delas nem tinha usado drogas, mas se identificavam com os sentimentos. Quem nunca sentiu medo,abandono,descaso ou desamparo?
Quem nunca ficou sem saber o que fazer,quem nunca achou que seria engolido pelos problemas que pareciam ter o tamanho de um hipopótamo gigante caindo nas nossas cabeças?

“Ana Karina, eu preciso parar de ter medo de viver , de me esconder em relacionamentos com caras problematicos que me deixam estagnada, na realidade não passa de uma desculpa para eu continuar estagnada...”

Os sentimentos...

São os sentimentos que nos tornam tão iguais mesmo quando somos absolutamente diferentes. Os sentimentos nos unem ou nos afastam ,nos fazem ver que não estamos sozinhos ,que não é um privilegio nosso meter os pés pelas mãos rs.
E como não sou diferente de ninguém (mesmo fazendo de conta que sou) rs me identifiquei com algumas coisas que a Roberta me escreveu.

“ tenho pavor de conhecer uma pessoa bakana e ser rejeitada , alias rejeição é um grande grilo que tenho e muitas vezes não passa de coisas da minha cabeça”


Nunca gostei de rejeição, por isso sempre mantive uma distância segura desse tipo de situação, olhava e se achava que existia uma mínima possibilidade de isso acontecer eu rejeitava antes.


É isso.

Sempre rejeitei antes talvez pelo mesmo medo que a Roberta falou. Imagina se eu conheço alguém e me apaixono ?
Ou pior, imagina se da certo?

Talvez eu tenha buscado tantas relações que eu já sabia que não tinham a menor chance de dar certo, ou que eu não corria risco de me envolver de verdade por puro medo.

Sou muito boa para lidar com o caos, fiz isso à vida toda e sai viva e inteira do outro lado. Mas não aprendi a lidar com coisas simples ,com a vida em paz .Na verdade achei que não saberia lidar com a “paz”,mas sei , as vezes sei rs.

Lembro quando me separei do Xu e fui morar sozinha com as meninas. Olhava a casa ,olhava para elas e me perguntava quem iria tomar conta de nós?
Quem iria tomar conta de tudo?

Dei conta, dei e continuo dando conta de muitas coisas que achava ser impensável. Claro as vezes morro de medo e são nessas horas que faço mesmo .Faço só porque é da minha natureza me superar ou porque não tem outro jeito rsrsrs .

A vida às vezes assusta. Ficar parada em um lugar horrível, mas que já conhecemos pode parecer à saída mais confortável. Mas certamente não é a saída mais feliz.
Quando sabemos que temos um problema ou um padrão repetido, já temos meio caminho andado. Isso porque temos a escolha de fazer diferente sempre.
Mudar é uma escolha, ser feliz é uma escolha, arriscar da frio na barriga, mas pode valer a pena e continuar errando também é uma escolha. Mas quanto se perde por isso?

Se não estamos ganhando já estamos perdendo.


“por isso que adoro ler o que voce escreve , pois seus textos me passam uma sensação de que podemos tudo e é exatamente isso que voce sempre diz podemos tudo ,podemos realizar desejos”


Roberta aprendi a duras penas outras vezes nem tão duras assim rs, que tudo é possível mesmo. Cada decisão que tomamos nesse momento pode fazer toda a diferença .Aprendi que podemos errar algumas vezes mas que podemos tentar outra vez.Não temos a obrigação de acertar sempre ,mas temos a responsabilidade de fazer o nosso melhor



Nossa felicidade e o rumo que vamos dar as nossas vidas estão sempre em nossas mãos, e podemos reescrever nossas historias a qualquer hora. Se em algum momento colocamos a responsabilidade pela nossa felicidade nas mãos de outras pessoas , podemos parar tudo e pegar as rédeas das nossas vidas e dar a ela a direção que acharmos que vai nos levar para um caminho mais próximo de onde queremos chegar .
Eu demorei ,mas descobri que vim ao mundo para ser feliz e tento ,tento e continuo tentando sempre. E quando não da para ser feliz o tempo todo ,eu lembro que tudo passa e que posso escolher novos caminhos .
Isso é uma decisão e só nós podemos fazer isso. Então menina virtual, pega sua vida faz com ela o melhor que você puder ou conseguir. Deseje ,sonhe e viva por que essa viagem é curta e não podemos desperdiçar nem um segundo dela .

PS Claro que o Ronaldo me ajuda a fazer coisas que eu ainda não sei, provavelmente por pura preguiça rs

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval sem máscaras.


Quem me conhece ou leu o livro sabe que nunca fiquei sozinha na vida
Pulava de um namorado para outro mais rápido que gripe ,casava ,descasava e já cheguei até a casar com dois ao mesmo tempo (bigamia, mas por pura falta de informação) rs
Terminar com meu último namorado foi uma das coisas mais difíceis, tenho que confessar que esse era Brasileiro e não desistia nunca, aturou muito. Muito grito,muita rejeição,humilhação e todas as coisas que eu faço quando não sei mais o que fazer.Acho até que ele não merecia pelo menos não tanto.

Vocês podem se perguntar, mas não teria sido mais fácil, ela simplesmente falar que não queria mais?
Eu falei, falei muitas vezes, mas como eu já disse... Brasileiro.rs

Finalmente entre feridos e feridos consegui me ver sozinha pela primeira vez na minha vida
Nos primeiros dias estranheis, mas gostei, depois comecei a acostumar e fui gostando mais e quando olhei a vida parecia perfeita, na verdade era como se eu tivesse uma vida outra vez.

Resolvi que era isso que eu queria ,ficar um pouco comigo, que modéstia a parte sou a melhor companhia que conheço. Gosto dos mesmos filmes que eu,tenho os mesmos hábitos,gosto das mesmas coisas ,não reclamos do meu comportamento e nem dos meus defeitos.
Perfeito entrei em uma relação comigo mesma e estamos de vento em popa

Maaaaaaaaaaaaaas sabe quando você começa a dieta e todo mundo te oferece doce?
Pois é...
Tem doce de tudo quanto é tipo me sendo oferecido, mas eu não quero, não acredito em relações e é por isso que tenho cachorros. Sou péssima com vínculos e acabo machucando as pessoas .
Mas tinha algumas pendências e isso me fazia sentir como se eu estivesse traindo a mim mesma, já que agora estou em uma relação seria e estável comigo.
Uma delas era com um babaca (estou adorando encher a boca para finalmente falar assim), um cara que esconde a droga de vida dele em fotos coloridas de vôos e idas ao Cristo, atrapalhou minha relação com o “Brasileiro” já que apareceu enquanto eu ainda estava com ele. A poucos dias passamos a noite toda trocando ofensas por e mail e isso me fez lembrar o que um amigo uma vez me disse sobre meus namorados .
Ele falou que eu não namorava um cara, eu namorava um encosto que ia pulando de um para o outro e todos ficavam exatamente iguais por mais diferentes que fossem no inicio.
Pronto a culpa então não é mais minha é do “encosto”, que aparentemente não pulou em mim já que minha nova relação eu e eu esta indo muito bem.

Voltando ao babaca, ele me fez uma oferta que para qualquer pessoa seria irrecusável. Coisa de gente “legal” sem segundas intenções.
Aceitei.
Aceitei e imediatamente me arrependi

Conheço os bois que lavo e sei que tudo na vida tem um preço, mesmo que seja dever favor e eu não quero dever favor a ninguém. Posso dever ao banco tudo bem ,pelo menos não é nada pessoal e ele não vai me chamar para almoçar .Mas dever favor a pessoa física ...

Não obrigada.

Como diria o Xu (é ficamos de bem e posso pronunciar o nome dele) eu sempre dei um jeito de conseguir tudo que quis na vida.
Fui resolver o problema literalmente com minhas mãos e com essas mesmas mãos mandei um e mail agradecendo muito, mas que não precisava.
Claro que não ficou em um só e o troca troca neurótico de emails recomeçou.Foi até bom soltei os bichos e disse um monte de coisas que já estavam engasgadas tinha tempo.
E finalmente me senti livre

Essa liberdade de ser quem somos, de falar e fazer o que temos vontade isso não tem preço. Acho que é isso que me incomoda tanto nas relações tudo vira simbiótico ,vamos perdendo o que temos de mais legal de mais autentico para virarmos o ideal de perfeição de alguém .

No inicio tudo é lindo
Sentar com os pés na cadeira em um restaurante (sempre faço isso) é engraçadinho.
Depois vira falta de educação.
Acender um cigarro em local proibido (também gosto disso) é irreverente.
Depois vira falta de limites.
Falar que o cara que esta ao lado é um gato é honestidade.
Depois é falta de respeito

Tudo bem, eu concordo até que não sou uma pessoa de bons hábitos e que peco por falar a verdade mais vezes do que devia e menos do que queria. Mas por que não reclamou no inicio?Por que não me deu um pé na bunda enquanto era tempo?
Porque somos arrogantes e sempre achamos que vamos modificar as outras pessoas
Escrevi esse texto em clima de Carnaval que odeio, mas já que temos uma época para sair por ai usando fantasias, acho que deveríamos tirar as mascaras durante o resto do ano.

Vamos ser quem somos porque o que é de verdade é muito mais legal, vamos reinventar nossa relação com nós mesmos sem a preocupação esmagadora com a opinião dos outros. Não estou falando para ninguém sair por ai pedindo o divórcio ou terminando namoros .Nada radical tipo queimar soutien em praça publica rs.
Só estou falando para sermos mais honestos com nossos desejos, um pouco mais de respeito com essa pessoa que convive com você o tempo todo, você mesmo.
Sei que existem pessoas felizes nas suas relações, sei que algumas pessoas fazem qualquer coisa para entrarem em uma relação, mas não quero isso.
Pelo menos não agora, quero continuar livre absolutamente fechada para balanço e curtindo esse momento raro na minha vida, até porque sendo realista sabemos que não vai durar muito rs
Mas que quando eu sair do meu surto de solteirismo eu esteja com a visão menos embaçada e menos desmemoriada também para lembrar que só é possível ser feliz com alguém que me deixe ser quem eu sou .
Uma única pessoa “que leva minha alma em consideração antes de sonhar”, mas preciso ter certeza de que isso é verdade rs e não uma tentativa velada de ir comendo pelas beiradas.

Talvez meu ideal de relação seja muito exagerado, mas eu sou exagerada em tudo mesmo, no amor ou na falta dele. Exagerada e volúvel hoje posso não querer um namorado e amanha posso estar casada e também posso dias depois estar rezando para ficar viúva rs
Nada é definitivo é isso que faz a vida ter graça a liberdade para mudar de idéia, para escolher outra vez. Posso até começar a gostar de carnaval a única coisa que não pretendo fazer ,é usar mascaras.

PS Que fique claro que solteira não é sozinha rs