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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Adaptação e um pouco de suicídio social


Eu escrevi a alguns textos atrás sobre a minha mudança da casa para um apartamento.
Sabia que seria uma mudança em vários sentidos e não só no geográfico, o que eu não sabia e não sabia mesmo era o trabalho que ia dar.

Sou uma pessoa obcecada e quero tudo no lugar com um imediatismo surreal
Surreal para os outros e para quem tem que conviver comigo claro rs.
Muito mais rápido do que qualquer pessoa ou talvez para as pessoas que não sabem como eu sou consegui colocar quase tudo no lugar. Roupas no closet,quadros pendurados fotografias espalhadas(gosto de fotos dão um ar de lar sempre).
Mas descobri que algumas coisas não eram resolvidas com meus gritos e nem no meu tempo

Odiei descobrir isso claro, além de não achar nada justo

Um exemplo é o tal fogão...
Não me lembro nunca na minha vida de ter comprado um fogão, sempre nas minhas casas as coisas já estavam no lugar, alguém fazia por mim e eu só tinha que entrar. Mesmo quando me separei do Xu (ok voltei a falar o nome dele, mas ainda não desisti da idéia dos tapas), pedi para que ele fosse resolver essas coisas técnicas para mim. Chegávamos no shopping eu ia ver coisas mais úteis tipo enfeites ,tapetes etc. Ele ia ver fogão,geladeira e todas essas coisas que não tenho um contato digamos diário e intimo rs
Dessa vez tive que ir eu mesma resolver isso. Mandei umas 3 pessoas diferentes medirem o lugar do tal fogão embutido
Quem foi o arquiteto desocupado que inventou essa coisa de fogão embutido só para complicar mais a vida?
Esse cara esta na minha Black list fato rs.

Depois fui à loja para comprar o tal fogão, não podia imaginar que uma coisa besta como um fogão pudesse custar tão caro
Olhava para o fogão, a vendedora repetia todas as funções dele o que me irritava ainda mais
Eu não queria um fogão que cozinhasse sozinho, eu tenho a Dona Regina e ela já faz a comida. Também não queria um fogão inteligente e cheio de vontades
Meu cachorro já é inteligente e cheio de vontades...
A vendedora ia falando e eu ia surtando, pensava no preço e pensava em todas as outras coisas que eu podia fazer com esse dinheiro, que certamente me faria muito mais feliz do que um fogão.

Ela falava...
Eu pensava...

Uma bolsa, uma passagem para Bali, alguns cremes novos e a lista de comparação não parava de crescer
Sai da loja quase com fobia e resolvida que eu podia viver muito bem sem um fogão, foi para esse tipo de situação que alguém criou o microondas.
Mas cada vez que eu chegava em casa com a noticia de que o microondas podia resolver essa bobagem de comida, era bombardeada por todos e olha que eu tentava argumentar e sou boa nisso.
Não adiantou.
Quando vi que a coisa estava ficando seria, tomei coragem e voltei à loja resolvida a comprar o fogão. Mais uma vez a vendedora falava e falava achando que ia me fazer achar alguma graça no fogão. Pedi para ela usar o poder de síntese dela fazer a nota e fui escolher mais uma TV ,isso sim é uma coisa útil e vale o preço.
Na hora de pagar estava tão deprimida por ter falhado a minha idéia do microondas que pedi para Mariah pagar com meu cartão e fui fumar um cigarro lá fora enquanto me recuperava.

Outra coisa chata é que quando você compra essas coisas, você não leva na hora o que causa uma sensação de ter acabado de ser assaltada, disse que não saia de lá nem comprava coisa nenhuma se pelo menos não pudesse levar na hora a TV.
Depois foi a NET, mas não vou me estender por que acho que todo mundo sabe o quanto é irritante ter que ligar e agendar horário com eles, que sempre chegam trazendo alivio, mas nem sempre solução e ai você tem que remarcar e remarcar.

Eu tinha falado que sabia que não seria fácil ter que me acostumar com vizinhos o que eu não sabia, desconfiava, mas não imaginava que ia ser tão difícil era para eles se acostumarem com a nossa família.
Até o Natal tudo ia bem (todos já sabem que detesto essa época) fiz uma coisa pequena mais pelas meninas só para não passar em branco. Lá pelas tantas ouvi uma musica da Amy Winehouse. A musica não estava tão baixa que eu pudesse colocar outra sem ser incomodada e nem tão alta que eu pudesse ouvir bem.
Não tive duvida.
Interfonei para o apartamento de cima, perguntei se era de lá que vinha a musica e pedi, por favor, que eles aumentassem o volume.
Acho que ela imaginou que eu ia reclamar e pedir para abaixar, então deu uma longa gargalhada e nos convidou para subir.
Subimos...
O mundo é pequeno e todo mundo sabe disso, o dono da casa conheceu minha mãe grávida de mim, conheceu meu pai, meu avô uma feliz coincidência.

Minha política de boa vizinhança estava feita, tudo bem que me sinto constrangida cada vez que o filho deles resolve andar de skate dentro do apartamento e em cima da minha cabeça.
Não da para reclamar

Eu não tinha idéia de que logo logo eu não poderia reclamar de nada mesmo.
A Julia teve uma idéia “genial” de dar uma “social” para uns vinte amigos, ok.
Falei que não compraria bebida alcoólica por que não compro álcool para menor, ela concordou tão rápido...
Isso por que as pestes chegavam à minha casa com todo tipo de bebida da Vodka ao Absinto
Falei com alguns pais, para ser mais exata falei com um único pai e perguntei se a filha podia beber e ele respondeu que não. É engraçado como os pais não tomam o menor conhecimento nem dão a mínima .
Lembro de ter visto essa menina tomando um shot de tequila e quando fui falar com ela sobre a recomendação do pai e do segurança que preferiu esperar la embaixo, ela me disse que era só a terceira e que ela estava bem. Bom o segurança dela que devia ter ficado la tomando conta da menina .
Eu tenho bafômetro para usar na minha filha então...

Fiquei no meu quarto tentando não ser a chata que fica vigiando, mas de cinco em cinco minutos alguma coisa me fazia voltar à sala
Lembrava das minhas bebidas e corria para tirar de lá. Lembrava de algum cinzeiro desses que tenho mania de comprar em antiquários ou de países estranhos e voltava para tirar.
Lembrava que alguma criança podia cair da varanda e voltava para verificar
Resumindo a “social” da Ju para vinte pessoas tomou uma proporção incontrolável. Amigos de amigos de amigos chegavam sem parar e estranhos que eu nunca tinha visto e nem ela na vida.

Ascendi às luzes, desliguei o som e falei em alto e bom tom que a festa tinha acabado
Acho que meu tom não foi tão alto assim porque tive que repetir isso pelo menos umas cinco vezes. Porta aberta e eu tentando fazer uma fila para colocar todos os monstrinhos agora bêbados para fora.
Uns pediam para ficarem, outros não tinham a menor idéia do que estava acontecendo e eu repetia que era hora de ir embora.
O bando era bem maior com luzes acesas, nem sabia que podia caber tanta gente aqui (foi bom saber no caso de eu querer dar uma “social” rs). Eu estava até calma levando em consideração o estado da minha sala ,a cor do meu chão(que era branco) mas depois do milésimo “tia” que ouvi ,perdi o restinho de compostura
O elevador com capacidade para dez pessoas descia com vinte, um menino que falava que só ia embora se eu desse um beijo nele, falei que dava um tapa se ele não fosse menor de idade e a fila que parecia que nunca ia acabar...

Escada!

Podem começar a descer pela escada, e eles foram
Mas claro não foram em silêncio, tiveram a “fineza” de descer gritando até chegarem à portaria e depois de chegar, resolveram continuar a festa no gramado
Separei três amigos da Julia e coloquei para limpar o chão, recolher latas, copos e tudo que estava jogado por lá e definitivamente não faziam parte da minha decoração
Adoraria poder falar os sobrenomes desses três meninos, confesso que o que me deu mais prazer foi pegar “crianças” que não devem nem saber em que lugar da casa fica a cozinha e colocar com pano de chão na mão. Isso foi impagável.
Acreditem vocês também sentiriam se soubessem os nomes dos pais e o que eles fazem da vida.
Claro que meu interfone tocou e a sindica reclamava que eles não iam embora e que isso nuuuuuunca tinha acontecido antes
Duvido.
Mas enfim, falei para ela que minha parte estava feita, coloquei para fora da minha casa e que o que seria feito com eles no jardim era problema dela, da sindica. Ela disse que todos os moradores do décimo quarto andar para baixo estavam reclamando da gritaria na escada
Fiz rapidamente as contas, dois por andar então eu tinha vinte oito moradores com ódio de mim
La se foi minha política de boa vizinhança, eu devia saber que isso não ia durar.

Suicídio social consumado passei alguns dias torcendo para não cruzar com nenhum outro morador no elevador.

Uma outra coisa que tem me levado a loucura é ter que passear os cães. Nessas horas eles são só meus (na verdade são mesmo),mas sempre que peço para uma das duas levarem la embaixo tenho quase que implorar .
Acho que eles estão se acostumando bem, mas ainda sinto falta de abrir a porta de casa e deixar que eles saiam sozinhos.
Hoje vou menos à casa do que no inicio, antes eu ia pelo menos um dia sim ou dia não
Já consigo andar aqui com as luzes apagadas, sempre digo que só me sinto em casa quando posso fazer isso sem dar de cara em alguma coisa.
Ta bom, andar com os cães é um saco, mas gosto de fazer isso na madrugada quando tudo esta em silêncio e em paz
Tenho criado novos hábitos, voltei a ler bastante e consigo perceber a energia renovada da mudança acontecendo todos os dias
Alias todos os dias são diferentes aqui, o por do sol é sempre lindo e sentada olhando para o mar me sinto tão mais perto de Deus...
Estou adorando e acho que a vizinhança vai ter que se acostumar mesmo comigo por aqui rs

PS Não me acostumei com câmera dentro do elevador e acho que o porteiro também não se acostumou a me ver descer pela madrugada de pijama rs