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terça-feira, 9 de abril de 2013

"Pra" lá de Marrakech








Definitivamente esse foi o maior tempo que eu fiquei sem escrever. As coisas iam acontecendo e não eram das melhores e acho que com um otimismo que não sei de que lugar eu tirava, ficava esperando que tudo melhorasse para depois então escrever.
O ano que passou foi sem duvida um dos piores que já tive, entre tentativa de suicídio da minha filha (talvez eu fale sobre isso em outro momento), roubo, um namoro que foi uma roubada rs, venda da casa, compra de um apartamento e finalmente uma mudança que parecia não ter fim. Não sentia a menor vontade de escrever, cheguei a achar que nem faria isso outra vez.

Todo mundo sabe que adoro me mudar,adoro a energia que se renova. Acredite, eu estava precisando de renovação rs.
Claro que com meu imediatismo eu queria o apartamento pronto,tudo no lugar em vinte e quatro horas.
As coisas nem sempre são como eu quero e não acho a menor graça nisso rs.
Já que a palavra de ordem era renovação, decidi me livrar de coisas que já não tinham mais sentido. Podem incluir ai, livros que já tinha lido, outros que nunca chegaria a ler, roupas, fotografias, cartas de pessoas que nem sei mais o que fazem da vida e por ai vai.
Claro que o mais difícil foi me livrar das roupas.

Todo mundo tem aquelas que achamos que um dia vamos usar. Algumas quando estivermos mais magras outras quando estivermos mais gordas. Roupas que marcaram algum momento especial ou que pode ser que talvez a moda volte rs.

Nem tudo que passa volta e isso pode ser muito bom dependendo do ponto de vista rs.

Percebi como tinha muito mais coisas do que eu precisava.
Percebi como tinha muito mais gente perto de mim que já não deveriam estar.

Ia colocando o apartamento no lugar e de alguma forma tudo que virou uma bagunça dentro de mim no outro ano, lentamente também parecia voltar para o lugar.

Eu não tinha feito nenhuma das viagens que gosto no ano literalmente do cão que passou e com as coisas praticamente prontas, achei que mudar (mais ainda RS) de ares deveria fazer parte da renovação. Não tinha a menor idéia do lugar, com as meninas em aula também não sabia quem chamar ou se faria a viagem sozinha o que não era ma idéia.
E as coisas acontecem como tem que acontecer...

Estava fazendo sei lá o que quando uma amiga me ligou do aeroporto falando que estava indo a Paris.
Como assim TT, você sabia que estava querendo viajar
KK resolvi de ultima hora, embarco já.
Ok te encontro amanha.

Fiz muita coisa na vida por impulso e obviamente me fudi muitas vezes por isso. Acontece que muitas não são todas rs e algumas coisas se não forem feitas no susto, acabam não acontecendo.
Mariah repetia: Vai mãe, vai te fazer bem vai.
Fui.

Passagem comprada e no outro dia eu estava embarcando. Clarooooo que eu não tinha a menor intenção de ficar em Paris que é uma delicia, mas já foi tudo visto.
Assim que cheguei ao hotel, comecei a falar com a TT sobre Marrocos. Ela que também é do tipo vamos que vamos ,rapidamente entrou na internet e comprou nossas passagens.
Destino Marrakech
Quando chegamos ao aeroporto um velinho sem dentes nos esperava com a placa do nosso hotel. Íamos atravessando o estacionamento e passando por carros relativamente bons.

KK os carros estão ficando piores
Calma TT deve ser um carro legal
E andávamos...
Bom, o carro... O carro tinha motor e janelas isso já era bom.

Vimos uma paisagem marrom toda igual que dava a sensação de não estar saindo do lugar ou andando em círculos.
Quando chegamos a uma rua grande, marrom claro tivemos que continuar o resto a pé por uma rua mega estreita e eu não estava vendo nenhuma placa de hotel, mesmo que fosse em árabe. Não tinha placa ponto.
Nosso velinho desdentado nos deixou em uma porta que parecia qualquer coisa menos hotel
Era um hotel!

Eles chamam de Riad o que é uma coisa parecida com pousada e era fofa. Uma piscina no meio ,vários sofás em volta e um clima bem legal.
Um rapaz muito simpático (sem dentes também) nos explicava como tudo funcionava como chegar à praça principal e nos servia um chá.
Mais tarde esse rapaz iria se tornar nosso camelo, piada interna claro rs.
Sempre em frente segunda a esquerda, não é a primeira à esquerda, é a segunda. Nos deu o numero do celular dele caso nos perdêssemos e esse era o caminho para a praça.

La fomos nos...
Aos gritos e sustos em uma rua muito muito pequena por onde passavam milhares de motos, pessoas e cavalos, tentávamos chegar à praça.
O que vimos foi uma zona absolutamente fascinante. As musicas,roupas das mulheres os perfumes de incenso tudo era tão diferente ,sem falar da comida claro.

Comida sempre é um problema em viagem p mim.
Mas em um ato de coragem para não dizer de insanidade, resolvi que iria comer. Todos os outros turistas estavam comendo e pareciam bem vivos. Um garçom sem dentes nos servia coisas que eu não sabia o que eram eu comia. Comia e odiava rs .
Comer alguma coisa que você não sabe nem se é bicho ou outra coisa é tipo sair com um cara que você não sabe o nome. Se for uma porcaria você não vai nem poder alertar as amigas para não fazerem o mesmo rs.

As ruas já estavam vazias e tudo fechando. Tudo continuava marrom e clarooooo, nos perdemos.
Um garoto tentava nos ajudar, mas parecia que ele falava árabe
Nós não falávamos rs.
Conseguimos telefonar para o camelo e foi ai que ele passou todo resto da viagem cuidando de cada passo que dávamos.
Nosso camelo era um fofo maximo, andava junto nos mercados, ajudava a barganhar, carregava sacolas. Nós quebrávamos todos os protocolos da religião, já que nos pendurávamos no braço dele uma de cada lado. Ele estava adorando, se sentia com as duas esposas rs
O melhor disso era que a moça responsável pelo Riad não podia saber que ele era nosso camelo. Então quando saímos ele sempre nos esperava na esquina e na volta ele entrava dois minutos antes e depois chegávamos dando boa noite .
A noite ele sempre preparava jantar e chá e o coitado praticamente não dormiu no período que estivemos lá. Ficávamos acordadas até tarde pedindo chá e mais chá e durante o dia ele saia junto.

Apaixonadas por toda a confusão resolvemos prolongar nossa estadia em Marrakech e não sei dizer se o camelo ficou feliz ou não com isso rs.
Eu já me sentia em casa andando pelas ruas da Medina, tudo agora era de um marrom diferente. Não me perdia mais e até já sabia o que gostava de comer rs.
Milhares de barracas de suco de laranja (nunca tomo suco em viagem), já nos conheciam. Barraca numero quarenta.Tomávamos uns três sucos por dia e nunca cobravam. Nossas sacolas também ficavam guardas com ele e quando nos perdíamos do camelo por algum motivo, era o homem do suco de laranja que ligava para ele e em segundos o camelo já estava lá.

Uma noite o camelo marcou uma “experiência” típica deles para nós duas. Não sei como se escreve isso e não estou com vontade agora de pesquisar rs. Mas a coisa era basicamente um banho. Entramos em uma casa que só haviam mulheres marroquinas claro e que não falavam uma palavra de Frances ou inglês. Com mímica nos mandaram tirar a roupa, entramos em uma coisa parecida com uma sauna só que maior e não tão quente.
Aquilo parecia com a visão do inferno, mulheres peladas, gordas, magras, peludas, algumas se raspando tinha de tuudo.
Claro que quando tirei a roupa ouvi imediatamente o bla bla bla provavelmente por conta das tatuagens.

TT não pode rir
KK melhor não nos olharmos

As mulheres tomavam banho, cuidavam dos cabelos tudo com a maior naturalidade. Decidi que iria relaxar ,afinal esse era um dos motivos que me fizeram estar lá, conhecer.
Conhecer coisas novas
Uma mulher passava um sabão gosmento pelo meu corpo todo e depois com uma bucha me esfregava tanto que achei que ia sair de lá sem nenhuma tatuagem .
Acho que nem minha mãe nunca tinha me dado um banho assim. Foi engraçado e um pouco constrangedor, mas valeu.

Uma noite na praça eu tinha visto um cara, na verdade no meio de toda multidão eu só conseguia olhar para ele. Acabamos nos perdendo e deixei para lá.
Na noite seguinte enquanto procurávamos alguma coisa para comer, lá estava ele outra vez. Ao lado da barraca de doces e acabou falando alguma coisa, eu como boa idiota na hora não sabia o que dizer e fiquei pasmando sem falar coisa com coisas, aff coisa de mulher eu acho rs.
Depois que continuamos andando foi que a ficha caiu e falei para TT que eu ia encontrar com ele aquela noite.
Uma praça enorme lotada de pessoas convenhamos minhas chances não eram muito boas.
Mas...
Cara a cara outra vez deixei de ser boba e falei. Acabamos indo para um restaurante .
Estávamos em uma Medina e não vendiam álcool. Quando o garçom perguntou o que queríamos beber falei meio sem esperança:Vodka
Ok
Ok?
Quatro garrafas de vinho depois, eu completamente hipnotizada pelos olhos do homem que encontrei ao lado da barraca de doces. TT batia papo com o amigo dele que confesso não lembro bem nem o rosto, meu olhar era todo para aquele homem.
Eles iriam de carro para o deserto na madrugada e isso pareceu uma boa idéia.

Foi tudo tão rápido...
Em um momento estávamos pegando nossas coisas no Riad sob o olhar preocupado do camelo, no outro estávamos no Riad deles e depois dentro de um “caminhão” que era uma bagunça, uma deliciosa bagunça.
Claro que foi um risco. Não é a coisa mais segura conhecer dois estranhos no meio de uma praça em Marrakech e ir rumo ao deserto.
Mas com eu já disse algumas vezes fazemos coisas por impulso e mesmo que a chance de dar merda seja grande, sempre tem a possibilidade de dar certo.
E deu
Foi tudo lindo, mas vou deixar para outro texto rs.

Eu já disse isso uma vez e acredito cada vez mais nisso, as melhores coisas de uma viagem, não trazemos na mala. São coisas que ficam para sempre em nossos corações ,nas nossas memórias mais felizes .Aprender a respeitar as diferenças, tentar ,provar coisas novas ,as pessoas que encontramos pelo caminho isso tudo é tão rico é tão especial.
Eu achava que gostava de viajar para tentar me encontrar, mas dessa vez percebi que o melhor é se perder.
Perder velhas crenças, perder preconceitos perder o medo
E acho que aprendi uma coisa mais importante que estava o tempo todo no meu nariz, mas não notei. Não temos que ir para um lugar distante para isso. A vida é uma eterna viagem, todos os dias quando acordamos, mesmo que estejamos nos mesmos lugares e com as mesmas pessoas, se mudarmos nosso olhar por alguns instantes, tudo muda.
A mudança está sempre em nós mesmo e não tem absolutamente nada a ver com o resto. Aprender a respeitar as diferenças nas pessoas que convivemos todos os dias pode parecer até mais difícil, mas não é só parece. Fazer escolhas no impulso pode ser uma nova forma de se chegar a novos caminhos.
Estarmos ao lado das pessoas que realmente nos trazem alguma coisa boa é muito diferente de ficar acomodado ao lado de pessoas que só sugam que não nos fazem querem dar o nosso melhor, não tem o menor sentido.
Podemos provar e arriscar coisas novas agora mesmo, dentro das nossas casas, trabalhos ou andando nas ruas. A vida não é de sonhar, é de fazer acontecer.
Esta tudo aqui bem perto só precisamos olhar. Um novo e generoso olhar

Acho que escrevi de mais rs
Acho também que perdi um pouco a mão para a coisa. Mas para alguém que até bem pouco tempo não conseguia sentir vontade de escrever nem uma linha ,acho que é um bom recomeço . E é sobre isso esse texto sobre recomeçar todos os dias, mas de forma diferente.


Ps Ainda falo todos os dias com o camelo
PS TT foi uma ótima companheira de viagem